quarta-feira, outubro 10, 2012

Estudos sérios e testados: estaremos a sobrestimar a seriedade dos salvadores?

A prova do experimentalismo económico e social que os governantes europeus permitiram que os seus povos fossem sujeito às mãos de extremistas radicais. Os governantes juravam, e continuam a jurar, fé absoluta na bondade dos modelos. Esses estavam "mal calibrados" - de forma intencional? -  e entretanto milhões de vidas foram arrasadas, destruídas por esse fanatismo, que à margem do regime democrático impôs o sofrimento atroz à maioria, salvaguardando contudo os grandes interesses, aliás os únicos a defender a "ciência" desta solução final. Trata-se de um crime público. Ninguém actua? Não há responsáveis?



FMI reconhece que calculou mal o impacto da austeridade na economia
Ao fim de mais de dois anos de austeridade na Europa, com várias previsões de crescimento revistas em baixa, o Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentou mais um mea culpa, algo que já se começa a tornar hábito na instituição.

Numa caixa intitulada "Estaremos a subestimar os multiplicadores orçamentais de curto prazo?", os responsáveis do Fundo tentam perceber porque é que as suas previsões (e também as de outras instituições) para a evolução das economias têm vindo a falhar durante esta crise.

E a conclusão a que chegam é impressionante. Enquanto que nos modelos de projecção usados, se estimava que, por cada euro de cortes de despesa pública ou de agravamento de impostos se perdia 0,5 euros no PIB, a realidade mostrava que esse impacto (os chamados multiplicadores) é muito maior. Afinal, desde que começou a Grande Recessão, em 2008, o que os dados económicos mostram é que por cada euro de austeridade, o PIB está a perder um valor que se situa no intervalo entre 0,9 e 1,7 euros.
In: Público


Investigadores do FMI recomendam terapia diferente da troika
Não chegam as receitas "tradicionais" para o ajustamento nos países "periféricos". É necessário que os países com excedentes na zona euro importem mais dos outros membros. É preciso desvalorizar o euro, colocar no terreno um mecanismo de transferências interno e criar condições de financiamento menos onerosas para os países deficitários.
In: Expresso
De facto, o FMI estimava que o efeito de um corte na despesa pública ou de um aumento dos impostos de 1 euro geraria um impacto negativo de cerca de 0,5 euros no PIB, mas agora estima que esse impacto negativo esteja entre 0,9 e 1,7 euros, algures entre o dobro ou o triplo, é só multiplicar. É o que dá subestimar o contexto histórico específico de crise generalizada, depois de rondas de liberalização, de muito reduzida utilização da capacidade produtiva instalada e de colapso do investimento, de política monetária convencional limitada e de austeridade generalizada, o que gera, sobretudo à escala da disfuncional Zona Euro, todos os círculos viciosos: a despesa de uns é mesmo o rendimento dos outros.

Vicioso é também o efeito de bola de neve da dívida nacional, graças ao abismal diferencial entre a taxa de juro exigida a um país sem soberania e a taxa de crescimento. Uma é largamente positiva e a outra é largamente negativa, graças à austeridade. São assim múltiplas as vias através das quais a realidade denuncia as tenebrosas fantasias do memorando.

Muitos economistas (...) avisaram desde o programa da Grécia que o efeito multiplicador da austeridade iria levar a uma contracção da economia muito superior ao esperado pelas troikas grega e portuguesa. Agora, temos este "desvio colossal" quantificado: por cada euro poupado em cortes, a economia perde até 1,7 euros, três vezes mais do que o previsto pelo modelo teórico do FMI. É este o ciclo da austeridade recessiva. Porque os 70 cêntimos que se perdem em cada euro poupado terão de ser recuperados, nem que seja por obrigação do pacto orçamental. E a única receita que a troika e os governos que lhe obedecem conseguem aplicar é mais austeridade. E por aí fora.

Quem lucra com este ciclo cataclismo? A Alemanha e alguns países do Norte da Europa. Os bancos alemães, no início da crise, estavam bastante expostos quer à dívida pública grega quer à portuguesa. Em dois anos, desfizeram-se dessa dívida. Os milhares de milhão extorquidos aos contribuintes gregos e portugueses têm servido para recapitalizar a banca alemã (e, em menor medida, a francesa), com algumas migalhas sobrando para os bancos gregos e portugueses. Noventa por cento da dívida pública soberana detida pelos nossos bancos é nacional. Agora, o sistema financeiro começa a respirar muito melhor.

Então por que razão fez Lagarde este aviso? Porque a recessão provocada pela austeridade nos países periféricos começa a afectar a economia real produtiva. Os seis por cento de contracção da Grécia mais os nossos quase quatro por centro começam a fazer mossa na Alemanha, e nem o bom desempenho deste país nas exportações para os países fora da UE consegue mitigar o efeito dominó. E o resto do mundo também já sofre os efeitos da gestão de crise decidida pela senhora Merkel. Neste momento, Lagarde tenta retroceder no caminho. Os milhões de vidas destruídas pelas políticas de austeridade são apenas um pormenor da História.

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